quarta-feira, setembro 01, 2010

Canto por ti

Um século inteiro e eu sou parte dessa nação há apenas 15 anos.

Filha e irmã de jogador, eu bem tentei jogar. Futebol está no meu DNA.

Sou fruto de uma mineira que cresceu flamenguista (pra se tornar santista na vida adulta) e de um mineiro cruzeirense (que também torce pelo SPFC desde que aqui chegou).

Logo, todo mundo sabe da história de que meu primeiro uniforme foi, por assim dizer, colorido. Meu pai travestia o casal de filhos com o uniforme do SPFC e saía todo orgulhoso cidade a fora.

Eu devia estar na barriga da minha mãe na primeira vez em que pisei em um campo de futebol. Além de aficionado, meu pai era um ótimo jogador e todo final de semana estávamos lá na várzea. Tenho muitas fotos de uma menininha que mal consegue ficar de pé na foto oficial com o time.

Depois do jogo, ouvíamos futebol no rádio ou assistíamos a transmissão do dia. E deve ter sido aí que meu pai errou na dose.

No auge da minha maturidade, aos meus 6 anos, o SPFC não me chamava atenção. Aquelas finais de libertadores que meu pai tinha freqüentado não me chamavam atenção e a torcida...eu não conhecia uma menina que entendesse de futebol ali!

Minha melhor amiga era palmeirense. O time do meu bairro (que era mó bom) jogava de verde. Mas o Corinthians vinha lindo naquele Paulistão de 1995 e a Gaviões me abraçou e me fez viajar pro céu naquela final. Uma raça que eu não via nos outros times. Estava encontrada.

A partir daí, só com muita raça pra contar pro meu pai. Mas ele nem ligou...achou que ia passar! Só um corinthiano mesmo pra saber o que é viver de Corinthians! Precisei de uma camiseta do carnaval de 95 e de uma taça metálica do Corinthians para ele entender que eu era fiel e ponto.

Mudamos para o bairro do chiqueirinho. Meu amor pelo futebol cresceu ainda mais e o da minha mãe despertou! Ela começou me apoiando e virou A corinthiana. A mulher enlouquece em dia de jogo! Grita coisas impublicaveis da janela, assiste ao jogo em outro cômodo pra não ter que brigar com meu pai, pula, escala, se descabela.

Muito bom compartilhar essa jornada com ela! Muito amor.

Mas a melhor imagem do que é ser corinthiano vem do meu vô Sebastião. Não tenho o sangue do vô Sebastião, mas ele aparece já nas minhas primeiras lembranças - e detestaria me ouvir dizer que não tenho o sangue dele, mas tenho muito mais! Tenho as lembranças do vô mais terno e doce, do casamento duradouro dele com a vô Ângela, da preocupação dele com os netos do coração e do maior exemplo fiel que poderia ter.

Meu vô faleceu por causa da diabetes há alguns anos. Foi muito dolorido ver aquele homem forte sendo enfraquecido pela doença, impossibilitado de ir a padaria para comprar mussarela e mortadela para o café do netos.

Minha avó era uma cristã fervorosa, que pedia orações a todos pelo vô Sebastião. Com o agravamento da doença, o vô já não podia andar. A partir daí, ele decidiu que apenas eu, minha mãe e determinados pastores poderiam orar n’ele, impor mãos. E assim, corriam as visitas aos domingos: após a oração da chegada, sintonizávamos a TV no jogo do Timão, ele pedia para meu pai sentar ao lado dele e compartilhavam o fone de ouvido.

E foi assim até os últimos dias dele, quando foi para o hospital.

Meu vô me ensinou muitas coisas. Viver de Corinthians foi uma delas.

Obrigada, vô Bastião.

“Me dê a mão, me abraça
Viaja comigo pro céu
Sou gavião, levanto a taça
Com muito orgulho, pra delírio da Fiel”