sábado, agosto 04, 2007

I'll be your mirror...
Sabia que eu passo horas pensando e lembrando? Te escrevi uma carta. Achei uma crônica perfeita pra esse momento. Se fosse possível, eu daria um abraço no Rubem Braga e não diria mais nada. Te liguei várias vezes. Atenderam, às vezes. Não atenderam na maioria. Não liguei no Felipe, ou no celular. Seria muita desconsideração. Estavamos pensando num sushi amanhã. Você já está em São Carlos? Ah, é. Eu não sei pra onde enviar a carta. Smallville, Saint Charles. Noutro dia, li tuas cartas. Achei presentes. Chorei. A Má achou minhas coisas do Tomie. Vou chorar quando recebê-las. Sabia que guardo tua primeira bolinha de gude? Saudade. Muita. Mas a quantidade não importa. É sempre amor, mesmo que mude. Eu não teria coragem de dizer que é sempre amor mesmo que acabe. Mas seria. Noutro dia, contei pra uma amiga da faculdade como fiz meus amigos mais importantes. Teve uma época em que a gente não precisava nem falar, lembra? Era como se a gente se enxergasse por dentro. Pra que fazer a piada, se a gente já sabe qual vai ser, se a gente pode rir dela antes. God, I hate those tears. Eu gosto de tanta coisa que eu queria te mostrar. Você achava que Belle & Sebastian era canção de ninar, mas dormiu uma tarde inteira ouvindo Jeff, o meu Jeff Buckley. I used to be alone before I knew you both. Ele saiu da sala sequinho, então, lembrei do dia em que ele saiu sem camisa, derretendo, pedindo uma coca-cola. Você gosta de Oasis? A gente passaria uma tarde inteira ouvindo nossos cds-coletâneas, fazendo arte postal, colocando o Saci no telhado. A gente voltaria tomando chá, fazendo outro caminho. Ninguém entende porque não gosto de voltar pelo mesmo caminho. Aprendi com meu pai que nunca vi. É que ele criou o outro pedaço de mim. E se eu fosse explicar as pessoas desistiriam de mim, de novo. Eu te avisei que um dia iria te magoar. Quis ser decente. Mas acabei te magoando por um ano inteiro. Me importa menos ter machucado os outros. É como se fosse a primeira vez que eu sofresse mais por mim. E você teria me feito ouvir hardcore, nós teríamos ido a uns shows tosqueira. E eu teria gostado, mas ficaria dizendo que hardcore é tosco. Lembra da minha mãe dizendo "Que mulher tosca!", eu ainda dou risada sozinha, ela nunca mais repetiu isso. E do baião de dois? Sempre lembro de ti quando é baião de dois. E de presunto, porque você gostava de presunto. Gostava, né? Acho que gostava. E eu gostava da comida da sua mãe. Eu era mó dã com internet, odiava high tech. Ainda não gosto assim..tipo, nano-qualquer coisa. Um dia, eu vi tua camiseta do Kings of Leon. Mas eu não sabia que você iria virar minha melhor amiga, minha irmã. Leah Corgan, lembra? Eu não quero mais casar com o Billy Corgan. Eu não quero mais ter cinco filhos, eu não quero mais ter filhos. Ou quero, mas eu não penso mais nisso. Mas acho que você não sabia de nada disso. Eu esqueci o nome da banda, você soprou "Silverchair". Cara, e eu amava Silverchair! E perdi por causa do Roberto Leal. Mas foi ali que começaram a estragar nossa amizade. E você sabia disso, você sabia que eu estava próxima de falhar, aí você soprou "Silverchair". Eu não quero mais casar com o Tintin, ele é só um desenho. Não se pode casar com um desenho. Eu não fiz jornalismo, eu não fiz cinema. Eu fiz uma música pra você, um dia no meu trabalho, quando eu tava na experiência. Eu não sei onde foi parar, acho que era boa. Era em inglês. Eu queria te dar aquela camisa xadrex que você gostava. Mas não pense que é porque agora sou gorda e ela não serve mais em mim. Mas não serve mais em mim. Vou me mudar desse buraco. Eu voltei a comer carne, eu parei de comer carne, eu voltei a comer carne, de novo. Lembra que a gente quase não falava sobre a Clarice. Era como se ela conhecesse as duas. Danada. Eu não vou mais casar com o Kapranos. A gente se viu. Pergunta pro Jeng. Não combinamos. Eu gosto da sua letra grande. Eu queria te ver, falar da minha vida. Teve uma época que eu quase parei de falar, ninguém valia a pena. Era "Boa tarde. Tem preferência por chave?". Era chorar no telefone quando o André me ligava. Cê viu? Ele tá longe. Eu queria te ver, mas eu nem falaria da minha vida, eu faria umas piadinhas, você ía me olhar com aquela cara-de-quem-diz-cabeção, mas se a gente ficasse quietinha, seria como no passado e você saberia o que acontece na minha vida sem que eu falasse nada. Lembra dos apelidos que a gente colocava nos outros? Eu guardo comigo. Só o Perfeito não virou nosso amigo. Ele deve estar feio, mas na nossa previsão era pra ele estar perfeito agora. Maybe I don't really wanna know how his garden grows. O Bad virou um dos meus melhores amigos. Absolutamente. Eu te dei a capa dum vinil do Smiths, você ainda tem? Me custou cinqüenta centavos. Bem empregados. Meu toca-discos está quebrado. Teu presente de aniversário do ano passado tá aqui, era o mais recente cd do Evan Dando (chilique!). Eu xinguei o Evan por você. Eu fiquei olhando pro baterista, nem pisquei. Eu sou uma canção do Wilco: She fell in love with the drummer, she fell in love with the drummer. hahaha. Dia desses, a Ananda viu o Sujo. Acho que foi num vestibular. Eu disse pra moça da MTV "falta um dia pra eu fazer 16, tudo bem, né?" Eu briguei com o Sílvio. O Pânico virou mó sucesso, né? Fecharam a pizzaria na nossa cara. Real. Alfonso Bovero, vila madá, eu fiz política. Pracinha, o Nando Reis correndo. No dia seguinte ao teu e-mail, tocou "Soul to Squeeze" na lotação da faculdade. Cantei junto, chorei sozinha. Era tão cedo. Você disse que cada um tinha tomado seu rumo, caminho, sei lá. Você tá certa. Mas eu li e passei uma hora e meia chorando, só parei porque tinha de voltar pro trabalho. Eu deixei de ser teacher, você virou teacher de verdade. Eu nunca mais chorei no cinema, sabia? Aquela foi a última vez. A Ma teve sorte, passou mais tempo contigo. A Universidade é mó legal. Tem um professor com mó bom gosto pra música, ele ía gostar dos teu bottons. Tem um professor com um sotaque mó bonitinho e ele é mó bonzinho. Eu achei que você estaria lá. Mas aí tá melhor agora. Aquele cd do Cash que eu te dei, todo mundo tem, eu não tenho. Queria te dar um com a June. Eu amo a June. O Babenco conversava com o Kerouac quando era adolescente, em pensamento. Eu conversaria com o Drummond. Eu parei de escrever, eu perdi meus desenhos. Eu voltei a escrever, mas agora é muito ruim. Eu choro de orgulho de ti. E por tudo que foi. Porque o que não foi, eu não sei se tinha de ser. E o Hard rock? Faz tempo que eu não ouço. Eu guardei meus cadernos. O Marcel vem me visitar, às vezes. Dia desses, no seu aniversário, quem sabe, eu vou ligar pruma rádio qualquer, a sua preferida não é mais rádio rock, vou ligar pra Kiss, vou pedir Screaming Trees, vou dormir com minha bermuda cinza-xadrex, aquela que eu só usava em casa. Essa cidade deve ser bonita. Qualquer dia, encho o carro e você vai ver meu cabelo novo - vou ter um - e vai perceber que eu tô diminuindo e eu vou levar uns cds bacanas pro Felipe. A gente vai ouvir Who, Beatles e The Shins. Aí, eu voltarei a ser Lee Lil' Bread Gallagher e você será uma Cash Kiedis, o Felipe vai ser um Rolling Stone, ou o Dylan. Você gosta de Oasis? A gente vai ser feliz pra sempre.
You'll be my mirror.

The girl from the dirty shirt.

6 comentários:

Anônimo disse...

4 thumbs up!

Anônimo disse...

4? Oh well ok.

Anônimo disse...

Lembre-se, temos apenas 2 thumbs cada um.

Letícia Ribeiro disse...

At first, you scared me. Cause I thought I was talking with someone from Albertaine - there they use more than 10% of the brain! - so maybe they're green, maybe they have 4 thumbs each. Then I just got happy and used to that. Thank you, fantasy destroyers ¬¬

Just quindim :)

Then 4 is great!

Anônimo disse...

I´m insulted. You suggest I can´t use my brain and my color is wrong. This is outrageous.

Letícia Ribeiro disse...

oh no! I didn't mean it (: