Eu me lembro dos olhos, os olhos cheios, a voz arranhada, de cada pedacinho caído. Sobrou nada. A casa vazia, um rosto ameno, a voz embargada, os olhos sorrindo sabe-se lá porquê.
As antilhas afundando, já não havia Galapágos.
Tinha um céu laranja, não chovia há uns três dias, a terra estava fresca, nem seca nem molhada, fresca. Tudo parecia em órbita, tudo estava como na canção: Just fine, my babe.
E os portões abertos, os portões escancarados, Just fine, my babe.
Ela sussurrava, e então, gritava, e então, colocava as mãos entre os cabelos presos, desordenava os fios, embaraçava tudo.
Olhando assim, eu gostava menos dela. Just fine, my babe. Mas então, ela me olhava com olhos molhados, tão miúdos. Eu só via água. Aí, vinham as mãos, vinham os fios, molhava todo o resto para enxugar aquelas miudezas. E secos, sorriam.
Eu assobiei. Os portões abertos, os portões escancarados. Folhas mortas no jardim, mas a terra tão fresca. Eu assobiei: Just fine, my babe.
Ela passou as mãos no rosto e tentou segurar minhas mãos. Me afastei.
E foi nesse momento singelo, momento-nada pro resto do mundo, que eu ouvi a frase mais melosa de toda minha vida:
-Cuide de tudo que é amor.
Abaixou a cabeça - eu sei que ela esperava um "vem cá, eu te amo" - e foi indo em direção ao portão, não era lerda, nem era rápida, nem olhou para atrás.
Voltei a assobiar - Just fine, my babe!
Mais tarde, quando fui fechar os portões, me dei conta: odeio standarts.
sexta-feira, dezembro 28, 2007
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